Por Antonio Carlos Vendrame
São Paulo foi palco de vários incêndios que se tornaram emblemáticos. O primeiro incêndio foi no edifício Grande Avenida, em 13/01/1969, cuja causa divulgada foi curto-circuito. O segundo foi o edifício Andraus, em 24/02/1972, cuja causa divulgada foi sobrecarga no sistema elétrico. O terceiro foi o edifício Joelma, em 01/02/1974, cuja causa divulgada foi curto-circuito no sistema de ar-condicionado. O quarto foi o Conjunto Nacional, em 04/09/1978, cuja provável causa foi um curto-circuito. O quinto foi novamente o edifício Grande Avenida, em 14/02/1981, cuja causa divulgada foi curto-circuito na rede elétrica. O sexto foi o edifício CESP, em 21/05/1987, cuja causa divulgada foi superaquecimento de um reator de lâmpada fluorescente. O sétimo foi o edifício Wilton Paes de Almeida, em 01/05/2018, cuja causa foi curto-circuito numa tomada onde estavam ligados três eletrodomésticos.
Todos os incêndios relatados, possuem como causa comum, problemas envolvendo eletricidade ou equipamentos elétricos. Não foi diferente com a catástrofe ocorrida no dia 8 de fevereiro de 2019, no Centro de Treinamento Ninho do Urubu, do Flamengo, que deixou 10 mortos. A causa foi curto-circuito no sistema de ar-condicionado.
E mais, o incêndio ocorrido no Museu Nacional no Rio de Janeiro, em 02/09/2018, adivinhem qual foi a causa? Curto-circuito no ar-condicionado!
Neste momento vou renunciar à autoria da frase: a experiência do passado não tem servido para prevenir o futuro. Infelizmente tais acidentes são previsíveis e preveníveis. Ano após ano convivemos com catástrofes que poderiam ter sido evitadas, a exemplo do rompimento da Barragem de Mariana, inundação em Petrópolis etc.
A questão básica é que a eletricidade tem sido negligenciada ao extremo. Os profissionais eletricistas, com raras exceções, são constituídos por pessoas sem qualquer formação ou curso básico. Lidam com eletricidade baseado em sua prática cotidiana. Falar em normas da ABNT para alguém que sequer possui um curso básico em eletricidade é como falar em cálculo integral para quem não sabe a tabuada…
Os problemas com eletricidade começam das instalações prediais malfeitas, com subdimensionamento da fiação. A instalação de equipamentos também não segue qualquer critério e, na maioria das vezes, realizada por profissionais desqualificados.
E não é só! Falta de projeto elétrico é outro grave problema. Atuar numa instalação sem projeto é como dirigir no escuro ou fazer um bolo sem receita. Outro hábito comum é a realização de gatos, derivando ligações de um ramal principal que eventualmente pode ficar sobrecarregado e dar início a um incêndio. Os multiplicadores de tomadas, conhecidos como “benjamins”, são formas práticas de sobrecarregar um circuito, ligando vários equipamentos num circuito que não foi projetado para tal.
Aterramento é mais um problema. Raramente as instalações possuem aterramento e, quase nunca os equipamentos, especialmente chuveiro, são aterrados. Equipamentos que dão choque é forte indicativo de que precisam ser aterrados.
Além do que, os fios e cabos não se encontram organizados, por exemplo, numa canaleta. Normalmente se encontram espalhados aumentando o risco de curto-circuito e choque elétrico. Não é incomum roedores deixaram os cabos desencapados com a linha viva exposta.
A escolha dos materiais também se constitui em questão criteriosa, vez que o mercado oferece produtos com preços competitivos, porém com baixa qualidade e, indiferenciáveis ao leigo. Cabos e disjuntores são os itens mais críticos de uma instalação elétrica e, absolutamente não devem ser adquiridos sob o único critério do menor preço.
Assim, mais uma vez o menosprezo às normas e a falta de prevenção foram responsáveis por várias vidas ceifadas.
A indenização não traz vidas de volta. Multas e outras penas não trazem a garantia de que os mesmos erros não acontecerão novamente. É preciso criar a cultura da prevenção. Só assim os acidentes não acontecerão mais!
A Vendrame Consultores atua em várias frentes com eletricidade, tanto na elaboração do laudo elétrico, quanto nos cursos da NR 10 (básico ou suplementar). Mais informações através do e-mail comercial@vendrame.com.br