Tenho frequentemente me atualizado sobre o tema COVID-19, através da TV, do rádio, da internet, dos jornais e dos “boateiros”. Há dias atrás produzi um artigo falando da imprensa marrom e sua contribuição para a propagação de uma onde exagerada de efeitos da pandemia. Digo exagerada pelo fato das várias fontes observadas externarem panoramas diferentes e até mesmo totalmente destoantes entre si. Como disse Barry Glassner: “A TV não inventa o que mostra, mas escolhe o que mostrar.”
É preciso que façamos um rápido exercício mental: Do que a imprensa vive? De vender notícia, oras! Se não houver notícia, acabou a imprensa? Não, claro que não, ela vai buscar o que chama de “pauta fria” ou seja, notícias de pouca relevância, tais como: o pobre que encontrou uma carteira recheada de dinheiro e devolveu a seu dono ou o rico benemérito que doou parte de sua fortuna para uma instituição de caridade…
Porém, é preciso que entendamos que boas notícias não são um produto muito bom para vender. Sou engenheiro de segurança e, sempre que fui convidado pela imprensa para opinar, nunca se tratava de prevenção, mas sempre do acidente que já tinha ocorrido ou da morte ou da doença… Ou seja, a desgraça vende muito bem! Basta ver nas ruas, quando alguém desmaia e vai ao solo, um aparece para levantar o acidentado e prestar os primeiros socorros, mas uma multidão forma uma roda para ver o que está acontecendo.
Veja nas rodovias! Quantas vezes um enorme engavetamento ocorre somente para ver o que está acontecendo do lado contrário da pista. Muitos chegam a parar ou encostar os veículos para ver a cena do acidente. Outros mais inescrupulosos fotografam o acidente e divulgam nas redes sociais, só para obter meia dúzia de “likes”.
Certa vez realizava a perícia de um funcionário de uma grande companhia de controle de tráfego. Para minha surpresa ele exibia um enorme álbum com várias fotografias horrendas de acidentes, com pessoas decapitadas, sem braço ou perna, com o aparelho digestivo todo exposto etc. Aquele álbum era um troféu que aquele funcionário exibia com orgulho.
E toda esta narrativa serve para que? Para mostrar que todos nós gostamos de ver coisas horrorosas… Dê-me uma boa notícia e eu a transformo numa péssima notícia! Boa notícia: Faz um ano que não ocorre acidentes na empresa X, vamos comemorar! Péssima notícia: A comemoração expressa uma autoconfiança de que não ocorrerá acidentes, o que pode baixar a guarda (prevenção) favorecendo a ocorrência do acidente.
Desde pequenos somos condicionados pelo medo. Crescemos ouvindo sobre a bruxa, o bicho papão e tantos outros, somente para prestar obediência aos pais. Quando somos jovens também somos condicionados pelo medo da polícia, das más companhias, do fumo, do álcool e das prostitutas. E, finalmente, quando adultos, nossos medos são: o desemprego, a falta de dinheiro, a violência urbana, a morte etc.
Assim, o medo nos acompanha eternamente. É nosso maior inimigo. E usam esta fraqueza o tempo todo contra nós mesmos. O medo nos impede de pleitear uma promoção. O medo nos dificulta de aproximarmos de alguém. O medo nos bloqueia de tentar, tentar e tentar. O medo nos transforma em figuras frágeis, a ponto de corrermos de uma pequena barata!
Não dê espaço ao medo! Não seja vítima da epidemia do medo! Neste momento temos somente a pandemia de um vírus!