Agentes biológicos: riscos e medidas de proteção

Dr. Antonio Carlos Vendrame

24 de outubro de 2023

Os agentes biológicos representam uma classe de riscos ocupacionais significativos em várias áreas, especialmente na saúde.

 

São micro-organismos capazes de causar doenças infecciosas e representam uma preocupação tanto para os trabalhadores expostos quanto para a saúde pública, em geral.

 

Neste artigo, exploraremos os riscos biológicos, a transmissão dos agentes, as precauções universais, as formas de exposição na área da saúde e as medidas de proteção adotadas.

 

Riscos biológicos

Os riscos biológicos são caracterizados pela presença de micro-organismos (como bactérias, vírus, fungos, protozoários) ou suas toxinas que possam causar danos à saúde humana.

 

Eles podem estar presentes em ambientes de trabalho como hospitais, laboratórios, indústrias de alimentos, entre outros.

 

A exposição a esses agentes pode ocorrer por meio do contato direto com sangue, fluidos corporais, secreções, aerossóis contaminados, entre outros.

 

Transmissão dos agentes biológicos

A transmissão dos agentes biológicos pode ocorrer de diversas maneiras. Uma das formas mais comuns é a transmissão de pessoa para pessoa, por meio do contato direto ou indireto com fluidos corporais, ou superfícies contaminadas.

Além disso, alguns agentes biológicos podem ser transmitidos por vetores, como insetos e roedores, que atuam como hospedeiros intermediários.

 

Rotas de entrada e de transmissão

Existem diferentes rotas de entrada para os agentes biológicos no corpo humano, incluindo a inalação (respiração de aerossóis contaminados), ingestão (consumo de alimentos ou água contaminados) e inoculação (por meio de feridas ou lesões na pele).

 

A transmissão pode ocorrer através do ar, contato direto, contato indireto (por meio de objetos contaminados) e por vetores.

 

Hipóteses de risco biológico

Ao lidar com agentes biológicos, é necessário considerar algumas hipóteses de risco, como a possibilidade de exposição ocupacional acidental, agravamento de condições preexistentes, surgimento de doenças ocupacionais e potencial disseminação da doença para outras pessoas.

 

Portanto, é fundamental adotar medidas de prevenção e controle para minimizar esses riscos.

 

Hospitais e precauções universais

Nos hospitais, as precauções universais são medidas adotadas para prevenir a transmissão de doenças infecciosas durante a assistência à saúde.

 

Elas incluem a utilização de equipamentos de proteção individual (EPIs), como luvas, máscaras, aventais, óculos de proteção, além de medidas de higiene, como lavagem adequada das mãos, desinfecção de equipamentos e superfícies, entre outros.

 

Infecção hospitalar

A infecção hospitalar é aquela adquirida durante a permanência do paciente em um estabelecimento de saúde.

 

Ela pode ser causada por diferentes agentes biológicos e ocorre devido à exposição do paciente a condições propícias à infecção, como o ambiente hospitalar e a interação com profissionais de saúde, outros pacientes e equipamentos contaminados.

 

O controle adequado dos agentes biológicos é essencial para prevenir a disseminação dessas infecções.

 

Abaixo, tabela com algumas doenças e suas respectivas taxas de contaminação ocupacional. É importante notar que as taxas de contaminação podem variar dependendo da região, setor de trabalho e condições específicas:

 

Doença Taxa de contaminação ocupacional
AIDS Baixa (principalmente através de exposição a fluidos corporais contaminados, como sangue ou sêmen)
Tuberculose Moderada (principalmente em profissionais de saúde que têm contato direto com pacientes infectados)
Rubéola Baixa (mais comum em profissionais de saúde que entram em contato com pacientes com rubéola congênita)
Hepatite B Moderada (principalmente através de exposição a sangue contaminado)
Hepatite C Moderada (principalmente através de exposição a sangue contaminado)
Influenza Moderada (profissionais de saúde que trabalham diretamente com pacientes com gripe)
Sarampo Baixa (principalmente em profissionais de saúde que entram em contato com pacientes com sarampo)
Varicela Moderada (profissionais de saúde que têm contato direto com pacientes com varicela)
COVID-19 Alta (principalmente em profissionais de saúde que tratam pacientes infectados com o vírus)

 

Fontes endógenas e exógenas de transmissão

Fontes endógenas

As fontes endógenas de transmissão referem-se à própria pessoa, como o paciente ou o trabalhador infectado, que pode liberar os agentes biológicos por meio de tosse, espirro, sangramento, entre outros.

 

Fontes exógenas

Já as fontes exógenas são externas à pessoa, como superfícies contaminadas, instrumentos médicos não esterilizados, alimentos e água contaminados, animais infectados, entre outros.

 

O tabu da AIDS

A AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é uma doença causada pelo vírus HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) e, historicamente, tem sido cercada por tabus e estigmas.

 

No entanto, é importante entender que a transmissão do HIV ocorre principalmente através de relações sexuais desprotegidas, compartilhamento de seringas contaminadas e transmissão vertical (de mãe para filho durante a gestação, parto ou amamentação).

 

A conscientização e a adoção de medidas preventivas são essenciais para prevenir a disseminação do vírus. Ao contrário do que parece ser, a contaminação ocupacional da AIDS é baixíssima.

 

Vários fatores podem interferir no risco de transmissão do HIV. Estudos realizados estimam, em média, que o risco de transmissão do HIV é de 0,3% em acidentes percutâneos e de 0,09% após exposições em mucosas.

 

Tuberculose

A tuberculose é uma doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis. Ela é transmitida principalmente por via aérea, através de aerossóis contendo as bactérias expelidas por pessoas infectadas.

 

A exposição à tuberculose é um risco especialmente para profissionais de saúde que têm contato direto com pacientes infectados. A adoção de medidas de proteção, como o uso de máscaras respiratórias adequadas, é fundamental para prevenir a infecção.

 

Adicional de insalubridade

Devido aos riscos biológicos presentes em certas atividades laborais, por meio do anexo 14 da NR 15, da Portaria nº 3.214/1978 são estabelecidas situações para quais é cabível o adicional de insalubridade, como forma de compensação aos trabalhadores expostos.

 

A avaliação da insalubridade é realizada de forma qualitativa, por inspeção no local de trabalho. Por óbvio que o anexo 14 da NR 15 não abrange todas as situações possíveis de risco biológico; no entanto, as atividades listadas lá são as mais usuais.

 

EPIs, EPCs e outras medidas de proteção

A utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) é uma medida essencial para proteger os trabalhadores expostos a agentes biológicos. Esses equipamentos incluem luvas, máscaras, óculos de proteção, aventais, entre outros.

 

Além disso, Equipamentos de Proteção Coletiva (EPCs), como cabines de segurança biológica e sistemas de ventilação adequados, são implementados para neutralizar a exposição aos agentes biológicos.

 

NR 32

A Norma Regulamentadora NR 32, do Ministério do Trabalho, estabelece as diretrizes de segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde.

 

Ela define medidas obrigatórias a serem adotadas para prevenir riscos biológicos e garantir a proteção dos trabalhadores expostos, incluindo a capacitação dos profissionais, a implementação de programas de prevenção, a disponibilidade de EPIs adequados, entre outros aspectos.

 

Interessante lembrar que a NR 32 é uma norma administrativa, para gestão do trabalho em serviços de saúde e, não se presta à caracterização da insalubridade por agentes biológicos.

 

Assim, o simples descumprimento da NR 32 não é requisito para a caracterização da insalubridade, mas tão somente da autuação fiscal.

 

Avaliação dos agentes biológicos

Segundo o anexo 14 da NR 15 a avaliação dos agentes biológicos é realizada de forma qualitativa; no entanto, é possível realizar a avaliação quantitativa de tais agentes.

 

A avaliação dos agentes biológicos envolve a identificação dos riscos presentes no ambiente de trabalho, a determinação da intensidade desses agentes e a análise dos efeitos que podem causar à saúde dos trabalhadores.

 

Essa avaliação é realizada por profissionais especializados e é fundamental para estabelecer as medidas de controle adequadas.

 

A metodologia aplicada na avaliação quantitativa dos agentes biológicos dependerá da natureza e do meio no qual se deseja quantificar ou identificar. As técnicas de amostragem ambiental de microorganismos são:

  • sedimentação: é o método mais trivial onde se coloca uma placa de Petri, durante certo intervalo de tempo, para recolher as amostras;
  • coleta em meio líquido: um determinado volume de ar é forçado a passar através de um meio de cultivo, onde os micro-organismos ficam retidos;
  • filtração: um volume conhecido de ar é forçado a passar através de um filtro no qual ficam retidas as partículas portadoras de microorganismos;
  • impactação: um determinado volume de ar é impactado sobre um meio de cultivo sólido.

As placas com meio de cultivo são incubadas à temperatura e tempo específicos em função do micro-organismo que se deseja avaliar. Ao fim do tempo de incubação, as colônias são contadas. O resultado é expresso em ufc/m3 (unidades formadoras de colônias por metro cúbico).

 

Conclusão

Os agentes biológicos representam riscos significativos para a saúde e segurança dos trabalhadores, especialmente na área da saúde.

 

A compreensão dos riscos, a adoção de precauções universais, a implementação de medidas de proteção adequadas e o cumprimento das normas regulamentadoras são essenciais para prevenir a exposição e garantir um ambiente de trabalho seguro e saudável.

 

A conscientização, a educação e a capacitação dos profissionais também desempenham um papel fundamental na prevenção e controle dos riscos biológicos.

Quer saber mais ou ficou com dúvidas sobre riscos e medidas de proteção contra agentes biológicos? Entre em contato conosco. Será um prazer ajudar!